atraentes e foram convenientemente dispostas e orientadas, quer para as necessidades de transporte, quer como protecção contra o vento. As casas são belas e bem construídas, formando duas filas contínuas ao longo das ruas, cuja largura é de vinte pés. Nas traseiras das casas, e entre elas, existem vastos jardins. Cada casa tem duas portas, uma para a rua e outra para o jardim. Estas portas não têm fechadura ou cadeado, bastando um leve empurrão para as abrir ou fechar. Qualquer pessoa aí pode entrar, pois nada há dentro das casas que seja pertença individual de algum indivíduo. De dez em dez anos, mudam de casa, tirando à sorte a que lhes cabe. Têm grandes cuidados com os jardins, em que cultivam a vinha e árvores de fruto, flores e plantas de toda a espécie. Tornam-nos tão agradáveis, tratam-nos com tanta habilidade e gosto que nunca vi em qualquer outro lugar jardins tão belos e cuidados.
O seu trabalho diligente não provém, neste caso, apenas do prazer, mas também de uma certa emulação e rivalidade entre as ruas, quanto ao jardim mais bem tratado, mais belo e mais variado.
De facto, nada se encontra em toda a cidade que seja mais' agradável e útil. Parece, mesmo, que o próprio fundador do império assim os concebeu. Dizem que Utopos imaginou e executou o plano da cidade tal como hoje existe, deixando à cargo dos seus descendentes o embelezamento dela, pois sabia que para isso não chegava o tempo de vida de um homem.
As suas crónicas, que religiosamente conservam, e que abrangem a história de mil setecentos e sessenta anos, desde a primeira conquista da ilha, testemunham que no início as casas eram baixas, construídas com os bocados de madeira que conseguiam arranjar, com paredes de lama amassada e telhados de colmo, em forma de pirâmide, assemelhando-se a cabanas ou choupanas de pastores.
