em velhas e rudes antiguidades. E outros, na sua própria obra. Alguns ainda são tão estreitos de espírito que não entendem gracejo ou crítica. Outros são de tal modo irritáveis, rabugentos e desagradáveis que não suportam a alegria ou divertimento. Há ainda uns pobres tontos que receiam tanto a mordedura de um dito espirituoso como um cão raivoso teme a água. Não esqueçamos aqueles cuja inconstância e instabilidade lhes dá, de hora a hora, um novo estado de espírito, que logo negam o que antes afirmavam. Outra espécie de homens costuma ajuizar os talentos dos escritores sentados à volta de canecas de cerveja, e com grande autoridade condená-los, a seu bel-prazer, cada escritor consoante os seus escritos, troçando-os, ironizando grosseiramente e escarnecendo-os malevolamente. Mas só quando se encontram, como diz o ditado, fora do alcance de tiro. Pois são tão escorregadios e astutos que só o fazem fora do alcance de homens honestos que lhes aplicassem o correctivo merecido.
Além de todos estes, existem ainda os cruéis e grosseiros, que, embora encontrem grande prazer na leitura da obra, não conseguem encontrar no seu coração uma parcela de estima ou uma palavra amável para o seu autor. São como os hóspedes descor- teses, ingratos e mesquinhos, que, depois de se empanturrarem de alimentos bons e escolhidos, voltam para casa sem agradecer ao anfitrião.
Valerá assim a pena oferecer à nossa custa, banquete tão precioso a hóspedes de tão caprichoso e diverso gosto e de natureza tão ingrata e indelicada? Contudo, caro Pedro, procede para com Hitlodeu, rogo-te, da maneira que acima te pedi. Quanto a este assunto, sentir-me-ei, então, livre para tomar uma decisão.
Porém, vendo o esforço e trabalho posto na realização deste livro, e se for da sua vontade e prazer, seguirei, na edição e publicação desta obra, a opinião e conselho dos meus amigos, principalmente