habitantes em excesso são enviados para cidades cuja população é demasiado restrita. No entanto, se a população de toda a ilha for excessiva, são escolhidos, em cada cidade, alguns cidadãos, que irão construir uma urbe, com lei própria, no país vizinho, onde os habitantes possuem grandes extensões desabitadas e incultas, recebendo do próprio país indígenas que a eles se queiram juntar e com eles viver. Esta comunidade de vida origina um estilo de vida comum que contribui para o progresso de ambos os povos. De tal maneira se organizam, auxiliados pelas leis da Utopia, que a terra, até aí estéril e desaproveitada, é agora suficiente para ambos os povos. Mas se os habitantes desta região não quiserem viver com eles, sob as suas leis escorraçam-nos para fora dos limites determinados e destinados aos Utopianos. E, se encontrarem resistência, recorrem à guerra, considerando como justa causa de guerra o facto de um povo possuir uma extensão de terra vazia e sem qualquer utilidade, impedindo os outros de dela se utilizarem e aproveitarem, pois, de acordo com a lei da natureza, todo o homem tem direito a alimentar-se e a tirar da terra o seu sustento.
Se por qualquer circunstância diminuir de tal modo a população de qualquer das suas cidades que não possa ser preenchida com o excesso de população de outras (o que apenas aconteceu duas vezes na Utopia, desde o início da sua nacionalidade, por causa de uma temível epidemia), recorrem então à população das colónias, pois preferem deixar perecer as colónias a acontecer esse mal a qualquer das cidades da sua ilha.
Voltemos às relações entre os cidadãos. O mais velho, como referi, é o chefe da família. As mulheres servem os maridos, as crianças os pais, e, em suma, os mais novos servem os mais velhos.
Cada cidade está dividida em quatro partes, ou bairros iguais.
