a gente veio para a rua. Era também interessante observar como eles se tinham iludido e quanto tinha sido logrado o seu intento, que tivera o efeito contrário do que pretendiam. Pois, aos olhos dos naturais da Utopia, excepto dos muito poucos que por motivos graves tinham viajado fora do país, a sumptuosidade do seu trajar causava-lhes reprovação e vergonha. Saudavam com reverência os mais baixos criados tomando-os pelos embaixadores e passavam por estes como se fossem criados, pensando que eram escravos, ao vê-los cobertos de cadeias de ouro.
E devíeis ter visto também as adolescentes, que tinham já deixado de usar pérolas e pedras preciosas, dizer para as mães, puxando-as pelos fatos, ao ver tal exposição de materiais no trajo dos embaixadores:
- Olha, mãe, vê aquele grandalhão que ainda usa pérolas e pedras preciosas como se fosse um bebé.
E a mãe respondia-lhe, com ar sério:
- Cala-te, filho, deve ser um dos bobos do embaixador.
Outros criticavam as cadeias de ouro, cuja finura e pequenez as tornava inúteis, pois um escravo poderia facilmente quebrá-las e também por serem demasiado largas; podendo, se ele quiser, deitá-las fora e fugir. Depois de terem passado em Amaurota um ou dois dias, e de terem observado tanto ouro e tão desprezado, tido aqui em tão pouca consideração, quanto era estimado no seu país; depois de terem visto que nas cadeias dum escravo havia maior quantidade de ouro que em todos os ornamentos e jóias da embaixada, sentiram o seu orgulho rebaixado e; envergonhados, despiram o fausto de que até aí tanto se orgulhavam e, quando se relacionaram mais intimamente com os Utopianos, aprenderam os seus costumes e princípios.
Espantam-se os Utopianos que alguém seja tão louco que se deleite com o brilho incerto de uma pérola ou pedra preciosa,
