quando se pode olhar o brilho das estrelas e a luz do Sol; ou que alguém seja tão tolo que se considere mais nobre por se cobrir de lã mais fina, a mesma lã - por mais fina que agora seja - que um carneiro um dia usou e nem por isso deixou de ser carneiro. Maravilham-se também que o ouro, por natureza inútil, seja mais estimado entre os outros povos que o próprio homem, embora tenha sido este a atribuir-lhe tal valor e a utilizá-lo a seu bel-prazer.
E espantam-se que um rico, mais estúpido que um burro, tão dotado de maldade como de idiotia, possa, apesar disso, ter na sua dependência e sujeição homens sensatos e virtuosos apenas pela razão de possuir um montão de ouro. E ainda se este lhe for tirado, por acasos da fortuna ou por artimanhas da lei (que tanto como o acaso eleva o homem da lama ou nesta o precipita, de altos lugares), e entregue ao mais vil e abjecto de todos os seus criados, em breve ele se porá ao serviço do seu antigo servo, juntamente com a sua antiga fortuna.
Mas o que mais estranham e detestam é a loucura dos que prestam honras quase divinas aos ricos, pelo simples facto de serem ricos, sem lhes serem, no entanto, devedores de nada, nem deles nada terem a temer; conhecendo para mais a sórdida avareza desses ricos e sabendo que, enquanto eles viverem, nem um soldo do seu ouro lhes virá parar às mãos.
Os Utopianos concebem tais sentimentos em parte pela: educação recebida no seio de uma república cujos costumes tão fortemente se opõem a estas loucuras e também pelo estudo das letras. É certo que, em cada cidade, um número muito restrito de indivíduos se encontra isento dos trabalhos materiais e destinado exclusivamente aos estudos das ciências, isto é, aqueles que, desde a infância, demonstraram aptidão natural, espírito penetrante e inclinação para o trabalho intelectual. No entanto,
