Amor de Perdição - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 71 / 145

Mal entrou na grade, disse à sua amiga:

– Olha lá, Joaquina, quem é uma menina muito branca, alva como leite, que estava ali agora numa janela?

– Seria alguma noviça, que há duas cá muito lindas.

– Mas ela não tinha vestimenta nenhuma de freira.

– Ah! já sei; é a D. Teresinha Albuquerque.

– Então não me enganei – disse Mariana, pensativa.

– Pois tu conhece-la?

– Não; mas por amor dela é que eu cá vim falar contigo.

– Então que é?! Que tens tu com a fidalga?

– Eu, cá por mim, nada; mas conheço uma pessoa que lhe quer muito.

– O filho do corregedor?

– Esse mesmo.

– Mas esse está em Coimbra.

– Não sei se está, nem se não. Fazes-me tu um favor?

– Se eu puder…

– Podes… Eu queria falar com ela.

– Ó dianho! Isso não sei se poderá ser, porque a trazem as freiras debaixo de olho, e ela vai-se embora amanhã.

– Para onde vai?

– Vai para outro convento, não sei se de Lisboa se do Porto. Os baús já estão preparados, e ela está morta por sair. E tu que lhe queres?

– Não to posso dizer porque não sei… Queria dar-lhe um papel… Faz com que ela cá venha, que eu dou-te chita para um vestido.

– Como tu estás rica, Mariana!… – atalhou, rindo, Joaquina – Eu não quero a tua chita, rapariga. Se eu puder dizer-lhe que venha, sem que alguém me ouça, digo-lho. E agora é boa maré, porque tocou ao coro… Deixa-me lá ir…

Joaquina saiu-se bem da difícil comissão. Teresa estava sozinha, absorvida a cismar com os olhos fitos no ponto onde vira Mariana.

– A menina faz favor de vir comigo depressinha? – disse-lhe a criada.

Seguiu-a Teresa, e entrou na grade, que Joaquina fechou, dizendo:

– O mais breve que possa bata por dentro para eu lhe abrir a porta. Se perguntarem por vossa excelência, digo-lhe que a menina está no mirante.

A voz de Mariana tremia, quando D. Teresa lhe perguntou quem era.

– Sou a portadora desta carta para Vossa Excelência.

– É de Simão! – exclamou Teresa.

– Sim, minha senhora.





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