Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: Capítulo 11

Página 72

A reclusa leu convulsiva a carta duas vezes, e disse:

– Eu não posso escrever-lhe, que me roubaram o meu tinteiro, e ninguém me empresta um. Diga-lhe que vou de madrugada para o convento de Monchique, do Porto. Que não se aflija, porque eu sou sempre a mesma. Que não venha cá, porque isso seria inútil, e muito perigoso. Que vá ver-me ao Porto, que hei-de arranjar modo de lhe falar. Diga-lhe isto, sim?

– Sim, minha senhora.

– Não se esqueça, não? Vir cá, por modo nenhum. É impossível fugir, e vou muito acompanhada. Vai o primo Baltasar e as minhas primas, e meu pai, e não sei quantos criados de bagagem e das liteiras. Tirar-me no caminho é uma loucura com resultados funestos. Diga-lhe tudo, sim?

Joaquina disse fora da porta:

– Menina, olhe que a prioresa anda lá por dentro a procurá-la.

– Adeus, adeus – disse Teresa, sobressaltada. – Tome lá esta lembrança como prova da minha gratidão. E tirou do dedo um anel de ouro, que ofereceu a Mariana.

– Não aceito, minha senhora.

– Porque não aceita?

– Porque não fiz algum favor a Vossa Excelência. A receber alguma paga há-de ser de quem me cá mandou. Fique com Deus, minha senhora, e oxalá que seja feliz.

Saiu Teresa, e Joaquina entrou na grade.

– Já te vais embora, Mariana?

– Vou, que é pressa; um dia virei conversar contigo muito. Adeus, Joaquina.

– Pois não me contas o que isto é? O amor da fidalga está perto daqui? Conta, que eu não digo nada, rapariga!…

– Outra vez, outra vez; obrigada, Joaquininha.

Mariana, durante a veloz caminhada, foi repetindo o recado da fidalga; e, se alguma vez se distraía deste exercício de memória, era para pensar nas feições da amada do seu hóspede, e dizer, como em segredo, ao seu coração: «Não lhe bastava ser fidalga e rica: é, além de tudo, linda como nunca vi outra!» E o coração da pobre moça, avergando ao que a consciência lhe ia dizendo, chorava.

Simão, de uma fresta do postigo do seu quarto, espreitava ao longo do caminho, ou escutava a estropeada da cavalgadura.

Ao descobrir Mariana, desceu ao quinteiro, desprezando cautelas e esquecido já do ferimento, cuja crise de perigo piorara naquele dia, que era o oitavo depois do tiro.

<< Página Anterior

pág. 72 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 72

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139