O certo é que este acidente me estragou o negócio daquela vez e regressei a casa da minha governanta tão magoada, contundida e cheia de medo que ela precisou de algum tempo para me pôr boa.
Atravessávamos uma quadra alegre do ano, pois começara a Feira de Bartolomeu. Nunca fora para esses lados nem a parte vulgar da feira podia oferecer-me grande vantagem, mas naquele ano dei uma volta pelos claustros e fui a uma loja de rifas. Não tinha grandes esperanças, mas a certa altura surgiu um cavalheiro muitíssimo bem vestido e muito rico e, como em tais lojas é costume todos falarem uns com os outros, escolheu a minha companhia e mostrou-se muito simpático. Começou por dizer que ia jogar em minha intenção e presenteou-me com a bagatela que lhe saiu (creio que se tratava de um regalo de penas); depois continuou a conversar comigo, com muitas mostras de respeito e delicadeza, como era próprio de um cavalheiro.
Passado muito tempo conduziu-me à entrada do estabelecimento e, daí, passeámos pelo claustro, sempre a conversar no mesmo tom delicado e desenvolto.