O Crime do Padre Amaro - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 150 / 478

E, voltando a dirigir-se aos fariseus infelizes, o liberal gritava-lhes com ironia: - "Contemplai a vossa bela obra!" Depois, por uma gradação hábil, o liberal descia de Jerusalém a Leiria: - "Mas pensam os leitores que os fariseus morreram? Como se enganam! Vivem! conhecemo-los nós; Leiria está cheia deles, e vamos apresentá-los aos leitores..."

- Agora é que elas começam, disse o cônego olhando para todos em redor, por cima dos óculos.

Com efeito "elas começavam"; era, numa forma brutal, uma galeria de fotografias eclesiásticas: a primeira era a do padre Brito: - "Vede-o, (exclamava o liberal) grosso como um touro, montado na sua égua castanha..."

- Até a cor da égua! murmurou com uma indignação piedosa a Sra. D. Maria da Assunção.

"... Estúpido como um melão, sem sequer saber latim..."

O padre Amaro, assombrado, fazia: Oh! oh! E o padre Brito, escarlate, mexia-se na cadeira, esfregando devagar os joelhos.

"... Espécie de caceteiro", continuava o cônego, que lia aquelas frases cruéis com uma tranquilidade doce, "desabrido de maneiras, mas que não desgosta de se dar à ternura, e, segundo dizem os bem informados, escolheu para Dulcineia a própria e legítima esposa do seu regedor..."

O padre Brito não se dominou:

- Eu racho-o de meio a meio! exclamou erguendo-se e recaindo pesadamente na cadeira.

- Escute, homem, disse Natário.

- Qual escute! O que é, é que o racho!

Mas se ele não sabia quem era o liberal!

- Qual liberal! Quem eu racho é o doutor Godinho. O doutor Godinho é que é o dono do jornal. O doutor Godinho é que eu racho!





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