O Crime do Padre Amaro - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 201 / 478

Quem sabe se ele não recusaria que lhe dessem a extrema-unção! Morrer sem sacramentos, morrer como um animal!

- Pelo amor de Deus! Pelo amor de Deus, senhor pároco! exclamou Amélia rompendo num choro nervoso.

- Não chore, disse ele tomando-lhe suavemente a mão entre as suas, muito trêmulas. Escute, abra-se comigo... Vá, esteja sossegada, tudo se remedeia. Não há banhos publicados... Diga-lhe que não quer casar, que sabe tudo, que o odeia...

Esfregava, apertava devagarinho a mão de Amélia. E subitamente, com voz dum ardor brusco:

- Não se importa com ele, não é verdade?

Ela respondeu muito baixo, com a cabeça caída sobre o peito:

- Não.

- Então, ai tem! fez excitado. E diga-me, gosta de outro?

Ela não respondeu, com o peito a arfar fortemente, os olhos dilatados para o lume.

- Gosta? Diga, diga!

Passou-lhe o braço sobre o ombro, atraindo-a docemente. Ela tinha as mãos abandonadas no regaço; sem se mover voltou devagar para ele os olhos resplandecentes sob uma névoa de lágrimas; e entreabriu devagar os lábios, pálida, toda desfalecida. Ele estendeu os beiços a tremer - e ficaram imóveis, colados num só beijo, muito longo, profundo, os dentes contra os dentes.

- Minha senhora! minha senhora! gritou de repente, num terror, a voz da Ruça, dentro.

Amaro ergueu-se dum salto, correu ao quarto da entrevada. Amélia estava tão trêmula, que precisou encostar-se à porta da cozinha um momento, com as pernas vergadas, a mão sobre o coração. Recuperou-se, desceu a acordar a mãe.

Quando entraram no quarto da idiota, Amaro ajoelhado, com a face quase sobre o leito, rezava: as duas senhoras rojaram-se no chão: uma respiração acelerada sacudia o peito, as ilhargas da velha: e à medida que o arquejo se tornava mais rouco, o pároco precipitava as suas orações.





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