O Crime do Padre Amaro - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 204 / 478

XII

Ao outro dia cedo, a Sra. D. Josefa Dias que entrara, havia pouco, da missa, ficou muito surpreendida, ouvindo a criada que lavava as escadas dizer de baixo:

- Está aqui o Sr, padre Amaro, Sra. D. Josefa!

O pároco ultimamente raras vezes vinha a casa do cônego; e D. Josefa gritou logo lisonjeada e já curiosa:

- Que suba para aqui, não é de cerimônia! É como de família. Que suba!

Estava na sala de jantar, arranjando numa travessa ladrilhos de marmelada, com um vestido de barege preto esgaçado na ilharga e arqueado em redor dos tornozelos por uma crinoline dum só arco; trazia nessa manhã óculos azuis; e foi logo ao patamar, arrastando os seus medonhos chinelos de ourelo, e preparando, por baixo do lenço preto repuxado sobre a testa, um ar agradável para o senhor pároco.

- Ora ditosos olhos, exclamou. Eu entrei há bocadinho, e já cá tenho a primeira missinha. Fui hoje à capela de Nossa Senhora do Rosário... Disse-a o padre Vicente. Ai! e que virtude, que me fez hoje, senhor pároco! Sente-se. Aí não, que lhe vem ar da porta... E então a pobre entrevada lá se foi... Conte lá, senhor pároco...

O pároco teve de descrever a agonia da entrevada, a dor da S. Joaneira; como depois de morta a face da velha parecera remoçar; o que as senhoras tinham decidido a respeito da mortalha...

- Aqui para nós, D. Josefa, é um grande alívio para a S. Joaneira... - E de repente, puxando-se para a beira da cadeira, assentando as mãos nos joelhos: - E que me diz à do Sr. João Eduardo? Já sabe? Foi ele que escreveu o artigo!

A velha exclamou, levando as mãos à cabeça:

- Ai! nem me fale nisso, senhor pároco! Nem me fale nisso, que até tenho estado doente!

- Ah, já sabe?

- E mais que sei, senhor pároco! O Sr. padre Natário, devo-lhe esse favor, esteve aqui ontem e contou-me tudo!





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