O Crime do Padre Amaro - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 219 / 478

Abafava, sentindo uma intolerável palpitação surda latejar-lhe interiormente contra as fontes; apesar de ventar forte nos campos, parecia-lhe seguir um silêncio universal; por vezes a ideia da sua desgraça rasgava-lhe subitamente o coração, e então imaginava ver toda a paisagem oscilar e o chão da estrada afigurava-se-lhe mole como um lamaçal. Voltou pela Sé quando batiam onze horas; e achou-se na Rua da Misericórdia, com o olhar cravado para a janela da sala de jantar, onde havia ainda luz; a vidraça do quarto de Amélia alumiou-se também; ela ia deitar-se, decerto... Veio-lhe um desejo furioso da sua beleza, do seu corpo, dos seus beijos. Fugiu para casa; uma fadiga intolerável prostrou-o sobre a cama; depois uma saudade indefinida, profunda, foi-o amolecendo, e chorou muito tempo, enternecendo-se mais com o som dos seus próprios soluços, - até que ficou adormecido, de bruços, numa massa inerte.

* * *

Ao outro dia, cedo, Amélia vinha da Rua da Misericórdia para a Praça, quando ao pé do Arco, João Eduardo lhe saiu de emboscada.

- Quero falar-lhe, menina Amélia.

Ela recuou assustada, disse a tremer:

- Não tem que me falar...

Mas ele plantara-se diante dela, muito decidido, com os olhos vermelhos como carvões:

- Quero-lhe dizer... Lá do artigo, é verdade, fui eu que o escrevi, foi uma desgraça; mas a menina tinha-me ralado de ciúmes... Mas o que a menina diz de maus costumes é uma calúnia. Eu sempre fui um homem de bem...

- O Sr. padre Amaro é que o conhece! Faz favor de me deixar passar...

Ao nome do pároco, João Eduardo fez-se lívido de raiva:

- Ah! é o Sr. padre Amaro! É o maroto do padre! Pois veremos Ouça...

- Faz favor de me deixar passar! disse ela irritada, tão alto, que um sujeito gordo de xale-manta parou olhando.





Os capítulos deste livro