O Crime do Padre Amaro - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 34 / 478

Agora, sereno, pagava pontualmente ao Céu as orações que manda o ritual, trazia a carne contente e calada, e procurava estabelecer-se regaladamente.

No fim de quinze dias foi a casa da senhora condessa.

- Não está, disse-lhe um criado da cavalariça.

Ao outro dia voltou, já inquieto. Os batentes verdes estavam abertos; e Amaro subiu devagar, pisando, muito acanhado, o largo tapete vermelho, fixado com varões de metal. Da alta clarabóia caia uma luz suave; ao cimo da escada, no patamar, sentado numa banqueta de marroquim escarlate, um criado encostado à parede branca envernizada, com a cabeça pendente e o beiço caído, dormia. Fazia um grande calor; aquele alto silêncio aristocrático aterrava Amaro; esteve um momento, com o seu guarda-sol pendente do dedo mínimo, hesitando; tossiu devagarinho, para acordar o criado que lhe parecia terrível com a sua bela suíça preta, o seu rico grilhão de ouro; e ia descer, quando ouviu por detrás dum reposteiro um riso grosso de homem. Sacudiu com o lenço o pó esbranquiçado dos sapatos, puxou os punhos, e entrou muito vermelho numa larga sala com estofos de damasco amarelo; uma grande luz entrava das varandas abertas, e viam- se arvoredos de jardim. No meio da sala três homens de pé conversavam. Amaro adiantou-se, balbuciou:

- Não sei se incomodo...

Um homem alto, de bigode grisalho e óculos de ouro, voltou-se surpreendido, com o charuto ao canto da boca e as mãos nos bolsos. Era o senhor conde.

- Sou o Amaro...

- Ah, disse o conde, o Sr. padre Amaro! Conheço muito bem! Tem a bondade... Minha mulher falou-me. Tem a bondade.

E dirigindo-se a um homem baixo e repleto, quase calvo, de calças brancas muito curtas:

- É a pessoa de quem lhe falei. - Voltou-se para Amaro: - É o senhor ministro.





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