O Crime do Padre Amaro - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 39 / 478

- Havia muita devoção na sua paróquia, Sr. Amaro? perguntava, no entanto, a condessa.

- Muita, muito boa gente.

- É onde ainda se encontra alguma fé, é nas aldeias, considerou ela com um tom piedoso. - Queixou-se da obrigação de viver na cidade, nos cativeiros do luxo: desejaria habitar sempre na sua quinta de Carcavelos, rezar na pequena capela antiga, conversar com as boas almas da aldeia! - e a sua voz tornara-se terna.

O rapaz rechonchudo ria-se:

- Ora, prima! dizia, ora, prima! - Não, ele, se o obrigassem a ouvir missa, numa capelinha de aldeia, até lhe parecia que perdia a fé!... Não compreendia, por exemplo, a religião sem música... Era lá possível uma festa religiosa, sem uma boa voz de contralto?

- Sempre é mais bonito, disse Amaro.

- Está claro que é. É outra coisa! Tem cachet! Ó prima, lembra-se daquele tenor... como se chamava ele? O Vidalti! Lembra-se do Vidalti, na quinta-feira de Endoenças, nos Inglesinhos? O tantum ergo?

- Eu preferia-o no Baile de Máscaras, disse a condessa.

- Olhe que não sei, prima, olhe que não sei!

No entanto o rapaz louro viera apertar a mão à senhora condessa, falando-lhe baixo, muito risonho; Amaro admirava a nobreza da sua estatura, a doçura do seu olhar azul; reparou que lhe caíra uma luva, e apanhou-lha servilmente. Quando ele saiu Teresa, depois de se ter aproximado vagarosamente da janela e olhando para a rua - foi sentar-se numa causeuse com um abandono que punha em relevo a magnífica escultura do seu corpo, e voltando-se preguiçosamente para o rapaz rechonchudo:

- Vamo-nos, João?

A condessa disse-lhe então:

- Sabes que o Sr. padre Amaro foi criado comigo em Benfica?

Amaro fez-se vermelho: sentia que Teresa pousava sobre ele os seus belos olhos dum negro húmido como o cetim preto coberto de água.





Os capítulos deste livro