O Crime do Padre Amaro - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 97 / 478

- A propriedade devia estar na mão da Igreja, interrompeu Natário com autoridade.

O cônego Dias arrotou com estrondo e acrescentou:

- Para o esplendor do culto e propagação da fé.

- Mas a grande causa da miséria, dizia Natário com uma voz pedante, era a grande imoralidade.

- Ah! lá isso não falemos! exclamou o abade com desgosto. Neste momento há só aqui na freguesia mais de doze raparigas solteiras grávidas! Pois senhores, se as chamo, se as repreendo, põem-se a fungar de riso!

- Lá nos meus sítios, disse o padre Brito, quando foi pela apanha da azeitona, como há falta de braços, vieram as maltas trabalhar. Pois agora o verás! Que desaforo! - Contou a história das maltas, trabalhadores errantes, homens e mulheres, que andam oferecendo os braços pelas fazendas, vivem na promiscuidade e morrem na miséria. - Era necessário andar sempre de cajado em cima deles!

- Ai! disse o Libaninho para os lados apertando as mãos na cabeça. Ai, o pecado que vai pelo mundo! Até se me estão a eriçar os cabelos!

Mas a freguesia de Santa Catarina era a pior! As mulheres casadas tinham perdido todo o escrúpulo.

- Piores que cabras, dizia o padre Natário alargando a fivela do colete.

E o padre Brito falou dum caso na freguesia de Amor: raparigas de dezasseis e dezoito anos que costumavam reunir-se num palheiro - o palheiro do Silvério - e passavam lá a noite com um bando de marmanjos!

Então o padre Natário, que já tinha os olhos luzidios, a língua solta, disse repoltreando-se na cadeira e espaçando as palavras:

- Eu não sei o que se passa lá na tua freguesia, Brito; mas se há alguma coisa, o exemplo vem de alto... A mim têm-me dito que tu e a mulher do regedor...

- É mentira! exclamou o Brito, fazendo-se todo escarlate.





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