O Grande Gatsby - Cap. 5: Capítulo V Pág. 80 / 173

Capítulo V

Quando, nessa noite, regressei a WestEgg, receei por momentos que a minha casa estivesse a arder. Eram duas da madrugada e todo o extremo da península resplandecia de luz, que se abatia, irreal, sobre os arbustos e produzia reflexos finos e alongados nos fios eléctricos e telegráficos à beira da estrada. Ao dobrar uma esquina, vi que era a casa de Gatsby, iluminada da torre à cave.

A princípio julguei que era mais uma festa, uma turbamulta desenfreada que se decidira pelas «escondidas» ou pelas «sardinhas em lata», com a casa inteira escancarada ao jogo. Mas não se ouvia rumor algum. Apenas o vento a soprar nas árvores e a sacudir os fios eléctricos, apagando e acendendo as lâmpadas, como se a casa piscasse os olhos à escuridão. Já o meu táxi se afastava rangendo, quando vi Gatsby encaminhar-se para mim, atravessando o relvado.

- A sua casa parece mesmo a Feira Mundial- disse eu.

- Acha que sim? - Volveu-lhe um olhar ausente. - Tenho andado a dar uma vista de olhos a alguns compartimentos. Vamos a Coney Island, meu velho. No meu carro.

- É demasiado tarde.

- E se fôssemos até à piscina dar um mergulho? Este Verão ainda nem a estreei.

- Tenho de ir para a cama.

- Bom, está bem.

Ficou à espera, a olhar para mim com contida ansiedade.

- Falei com a Miss Baker - disse eu, passado um momento. - Amanhã telefono à Daisy para a convidar a vir a minha casa tomar chá.

- Oh, deixe-se estar! - disse ele com naturalidade.- Não quero causar-lhe qualquer transtorno.

- Qual é o dia que mais lhe convém?

- Qual é o dia que mais lhe convém? - corrigiu-me ele prontamente. - Não quero causar-lhe qualquer transtorno, como deve perceber.

- Que tal depois de amanhã?

Considerou um instante e depois, com relutância:

- Primeiro queria mandar aparar a relva! - disse.





Os capítulos deste livro