O Grande Gatsby - Cap. 6: Capítulo VI Pág. 98 / 173

Dias depois, levou-o a Duluth, e comprou-lhe um casaco azul, seis pares de calças de fazenda branca e um boné. E quando o Toulomee partiu para as Antilhas e para a Costa Berbere, levou consigo Gatsby.

Ia vagamente em serviço pessoal - enquanto se manteve com Cody, foi alternadamente criado, grumete, capitão, secretário, e até carcereiro, pois o Dan Cody sóbrio sabia em que prodigalidades o Dan Cody bêbedo logo se metia e prevenia-se contra tais contingências, depositando cada vez maior confiança em Gatsby. O contrato durou cinco anos, durante os quais o barco deu três voltas ao continente. Podia ter durado indefinidamente, se não fosse o facto de Ella Kaye ter vindo a bordo, uma noite, em Boston, e daí a uma semana Dan Cody ter inospitamente morrido.

Lembro-me do retrato dele lá em cima, no quarto de Gatsby, um homem de cabelo grisalho e aspecto sadio, com um rosto duro e um olhar vazio. - o tipo do pioneiro debochado que, em determinada época da vida americana, trouxe consigo para a Costa Leste a violência selvagem do bordel e do saloon da fronteira. Era indirectamente devido a Cody que Gatsby bebia tão pouco. Por vezes, no decorrer de festas licenciosas, havia mulheres que lhe friccionavam o cabelo com champanhe; por si, adquiriu o hábito de não tocar em bebidas alcoólicas.

E foi de Cody que ele herdou dinheiro - um legado de vinte e cinco mil dólares. Que não chegou a possuir. Nunca conseguiu perceber que dispositivo legal usaram contra ele, mas o que restava dos milhões foi, intacto, para Ella Kaye. A ele, ficou-lhe a educação que tinha e singularmente se lhe apropriava; o vago contorno de Jay Gatsby recheava-se da substância de um homem.

Só muito mais tarde ele me contou tudo isto, mas narro-o já aqui, na intenção de fazer cair por terra esses primeiros descomedidos rumores acerca dos seus antecedentes, que não tinham o menor fundamento.





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