Naquela tarde, minha esposa e eu visitamos Kopp. Podia-se visitar os prisioneiros que não estivessem incomunicáveis, embora não se considerasse de bom alvitre fazê-lo mais de uma ou duas vezes. A polícia vigiava as pessoas que vinham e iam, e quem visitasse as cadeias com muita frequência acabava sendo carimbado como amigo de "trotskistas", não tardando em fazer-lhes companhia. Isso já ocorrera a bom número delas.
Kopp não estava incomunicado, e obtivemos permissão para vê-lo sem maiores dificuldades. Enquanto nos mostravam o caminho, passando pelas portas de aço que davam para a cadeia, um miliciano espanhol que eu conhecera no front estava de saída, entre dois Guardas Civis. Nossos olhares cruzaram, e mais uma vez foi aquele piscar invisível. E a primeira pessoa que vimos lá dentro foi um miliciano norte-americano que partira de volta a seu país alguns dias antes. Tinha os documentos em ordem, mas detiveram-no na fronteira assim mesmo, provavelmente porque ainda usava culotes de belbute, sendo por isso identificável como miliciano. Passamos um pelo outro como se fossemos inteiramente estranhos, e foi horrível. Eu o conhecera por meses seguidos, partilhara um abrigo com ele, que ajudara a carregar-me pela linha de frente quando eu fora ferido, mas era só o que podíamos fazer naquelas circunstâncias. Os guardas com uniformes azuis estavam espionando por toda a parte, e seria fatal reconhecer um número demasiado de pessoas.
A chamada cadeia não passava, na verdade, do pavimento térreo de uma loja. Em dois salões que mediam, cada um, perto de trinta metros quadrados, encontravam-se presas umas cem pessoas. O lugar tinha a aparência de uma prisão do Século XVIII, com sua sujeira bolorenta, o aglomerado de corpos humanos, sua falta de móveis - apenas o chão liso de pedras, um banco, e alguns cobertores rasgados - e a luz mortiça, pois as cobertas de aço ondulado foram baixadas sobre as janelas.