As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 179 / 339

Dirigiu-me umas palavras, não sem que um jovem com uma bexiga me golpeasse com suavidade a orelha direita, se bem que, com os gestos mais expressivos, desse a entender que não precisava de semelhante instrumento; percebi, mais tarde, que esta reacção produziu em Sua Majestade e na corte a ideia de que eu seria de reduzida inteligência. Pelo que pude deduzir, o rei fez-me várias perguntas e, pela minha parte, respondi em todos os idiomas que sabia. Quando ficou claro que não podia perceber nem ser percebido, por ordem sua fui conduzido a um dos aposentos do palácio (este príncipe destaca-se dos seus antecessores pela hospitalidade com os estranhos), onde dois criados ficaram à minha disposição. Trouxeram-me comida e quatro dos dignitários que rodeavam o rei deram-me a honra de participar na refeição. Houve dois serviços de três pratos cada um. No primeiro deram-nos lombo de cordeiro cortado em triângulo equilátero, um pedaço de carne de vaca em forma de losango e uma torta em forma de círculo. O segundo serviço constava de dois patos, ensartados em forma de violino; de salsichas e tortas parecidas com flautas e oboés e um peito de vitela em forma de harpa. Os criados cortaram o pão em pedaços cónicos, cilíndricos, em paralelogramas e outras diversas figuras geométricas.

Enquanto comíamos atrevi-me a indagar como se chamavam no idioma deles diversos objectos e esses dignitários, com a ajuda dos batedores, compraziam-se em responder-me na esperança de suscitar a minha admiração pelo seu talento, no dia em que pudesse conversar com eles. Em breve aprendi a pedir pão, vinho ou qualquer outra coisa necessária.

Após a refeição retiraram-se os comensais e, obedecendo às régias ordens, foi-me apresentada outra pessoa assistida por um batedor. Trazia consigo pena, tinta, papel e três ou quatro livros, dando-me a entender por sinais que fora enviado para me ensinar o idioma.





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