As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 55 / 339

CAPÍTULO VI

Dos habitantes de Lilliput; sua erudição, costumes e o sistema educativo de seus filhos. Estilo de vida do autor naquele país. Alegação de uma grande dama.

Embora tenha o propósito de descrever este império num tratado específico, desejo, entretanto, satisfazer o leitor curioso com algumas ideias gerais. Sendo a estatura média dos nativos um pouco abaixo das seis polegadas, também se verifica uma correspondente proporção nos restantes animais, tal como nas plantas e nas árvores. Por exemplo, os cavalos e os Dois mais altos medem de quatro a cinco polegadas, e as ovelhas uma ê meia, aproximadamente; os gansos são como pardais, e assim sucessivamente, até se chegar aos seres mais pequenos, quase invisíveis para mim. Mas a natureza adaptou convenientemente a vista dos liliputianos a todos os objectos. Vêem com grande precisão, mas não a grande distância. E para mostrar a sua acuidade visual relativamente a objectos próximos, tive a satisfação de observar como um velhote apanhava uma cotovia mais pequena que uma mosca vulgar; e como uma jovem enfiava uma linha de seda invisível numa agulha também invisível. As árvores mais altas medem uns sete pés (refiro-me às do grande parque real, a cujas copas chegava com a mão). O resto das plantas está na mesma proporção, coisa que deixo à imaginação do leitor.

Pouco é o que comentarei agora acerca da ciência que, durante muitos anos, floresceu em todas as áreas. De qualquer modo, a sua forma de escrever é muito especial, já que não é da esquerda para a direita, como entre os europeus; nem da direita para a esquerda, como fazem os árabes; nem de cima para baixo, como os chineses; nem de baixo para cima, como outros, mas oblíqua, de um ângulo para o outro do papel, no estilo das grandes damas inglesas.





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