A Linha de Sombra - Cap. 8: VI Pág. 139 / 155

.. "O nosso irmão"... Dava vontade de rir! E o riso era a única coisa que ele não suportava. Acho que fui eu o único homem que se atreveu alguma vez a rir-se dele. Quando ficou doente, isso assustava-o, àquele... irmão... Irmão... defunto... Eu mais depressa queria ter que chamar irmão a um tubarão do que a ele.»

O vento caíra tão bruscamente que o barco encostou pesadamente as velas cheias de água contra a mastreação.

O sortilégio da calma apodrecida surpreendera-o de novo. Não parecia haver qualquer forma de evasão possível.

«Ola!», exclamou Burns, com voz de espanto. «Calma, outra vez!»

Dirigi-me a ele como se fosse um homem no seu juízo perfeito.

«Há dezassete dias que não temos outra coisa, senhor Burns», disse-lhe eu com uma veemência amarga. «Uma brisa, e depois a calma; e num momento, o senhor verá o navio girar nos calcanhares, afastar a proa do rumo ao acaso, para casa do diabo.»

Ele pegou-me na palavra. «O velho demónio está a jogar às escondidas connosco», berrou ele numa voz aguda, e largou às gargalhadas, como eu nunca tinha ouvido nada de semelhante em toda a minha vida. Era um riso irritante; de troça, num registo alto, estridente, fazendo os cabelos eriçarem-se, um riso de desafio. Recuei com a cabeça perdida de todo.

Nesse instante, a tolda começou a revelar uma certa agitação, ouviam-se murmúrios desapontados. Por baixo de nós, uma voz consternada gritou por entre as trevas: «Quem foi que endoideceu agora?».

Provavelmente pensaram que teria sido o capitão! Uma corrida precipitada não designa exactamente a velocidade máxima de que eram capazes e a que apareceram em cima os pobres homens; mas num espaço de tempo, tão breve que espantava, todos os tripulantes do navio em condições de se moverem sobre as próprias pernas tinham aberto caminho até ao tombadilho.





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