Para verificar o seu estado mental, referi-me deliberadamente ao antigo capitão do navio. Senti-me encantado ao ver que Burns não manifestou qualquer interesse fora do normal por esse tema. Pôs-se a discorrer sobre a velha história das patifarias daquele bandido de mau feitio com certo prazer de vingança e, a seguir, concluiu bastante inesperadamente:
«Estou convencido, comandante, de que ele já tinha a cabeça fora do lugar um ano ou mais antes de morrer.»
Melhoras miraculosas! Era-me difícil consagrar-lhe toda a admiração a que tinha direito, uma vez que devia concentrar todas as minhas atenções no governo do leme.
Por comparação com o torpor desesperado dos dias anteriores, a velocidade do barco era vertiginosa. Duas cristas de espuma passavam, correndo para um e outro lado das amuradas, à proa do navio e o vento cantava com notas fortes que, se fossem outras as circunstâncias, teriam sido para mim uma expressão de todas as alegrias desta vida. Sempre que a vela grande começava, debaixo das carregadeiras, a panejar e a bater, e a esfarrapar-se no seu aparelho, Burns atirava-me um olhar de apreensão.
«Que havia eu de fazer, diga-me lá, senhor Burns? Não a podíamos ferrar nem caçar. Eu só queria que aquele empecilho batesse até se desfazer em tiras e desaparecesse de uma vez. Estas pancadas idiotas enervam-me.»
Burns esfregou as mãos uma na outra e exclamou bruscamente:
«Como é que o capitão vai entrar com o navio no porto sem tripulação para o manobrar?»
Eu não sabia que responder-lhe.