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Capítulo 8: VI

Página 146

Ora muito bem; isso verificar-se-ia quarenta e oito horas depois. Graças à acção de exorcismo do riso assustador de Burns, o fantasma maldito foi neutralizado, o feitiço quebrou-se, a maldição ficou em suspenso.

Agora encontrávamo-nos nas mãos de uma providência cheia de bondade e vigor. Levava-nos num ágil avanço...

Nunca esquecerei a última noite, escura, cheia de vento e bordada de estrelas. Eu estava ao leme. Burns, depois de eu lhe ter solenemente prometido um pontapé se sucedesse alguma coisa, mergulhou decididamente no sono, deitando-se no tombadilho, junto da bitácula. Ransome, com as costas apoiadas no mastro da mezena, e um cobertor pelas pernas, continuava numa imobilidade completa, embora julgue que ele não tenha pregado olho nem por um instante. A elegância em carne e osso que o França era, sempre no engano de que ainda estava cheio de força, fez questão de se nos reunir mas, sem esquecer nunca a disciplina, deitou-se tão afastado da parte de vante do tombadilho quanto lhe era possível, perto da chaleira dos baldes.

E eu permanecia ao leme, cansado demais para sentir ansiedade, cansado demais para qualquer actividade mental organizada. Vivi momentos de uma feroz e violenta alegria vencedora. Depois a coragem faltou-me, faltou-me terrivelmente à imagem do castelo da proa, na outra ponta do convés coberto de sombra, cheio de homens, presas de um paroxismo febril… - alguns às portas da morte. Por culpa minha. Mas não importava. O remorso não tinha outro remédio senão esperar. Eu tinha que me manter ao leme do navio.

Com a madrugada, o vento começou a amainar, depois caiu por completo. Por volta das cinco voltou, em jeito de bonança, de modo a consentir-nos que demandássemos o porto. O nascer do dia descobriu Burns sentado no xadrez da popa, bem instalado, num pandeiro de cabo, timonando o navio com as mãos ossudas, branquíssimas, a saírem das profundezas do seu capote, enquanto Ransome e eu corríamos precipitadamente pelo convés a tirar volta e a largar por mão todas as escotas e adriças.

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pág. 146 (Capítulo 8)

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Capa do livro A Linha de Sombra
Páginas: 155
Página atual: 146

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Nota do autor 1
I 6
II 42
II 43
III 64
IV 90
V 106
VI 129