«Ó do convés!»
A resposta que prontamente veio: «Pronto, comandante!», quebrou o encanto. O vigia à amarra subiu a correr, vivamente, a escada do tombadilho. Disse-lhe que avisasse assim que notasse o mais pequeno sinal de vento.
Desci e fui dar uma espreitadela a Burns. Era, na verdade, impossível não o ver, pois a porta do camarote encontrava-se aberta. O homem estava tão consumido que, dentro do camarote pintado de branco, debaixo do lençol branco, e com a magra cabeça mergulhada no travesseiro branco, os seus ruivos bigodes prendiam totalmente o nosso olhar, como qualquer coisa artificial... - como uns bigodes trazidos da loja e ali expostos à luz crua do candeeiro de antepara, sem quebra-luz.
Enquanto eu, espantado, o olhava afirmou ele a sua existência abrindo os olhos e virando-os para mim. Um movimento quase imperceptível.
«Calma podre, senhor Burns», disse eu com resignação. Numa voz inesperadamente distinta, Burns começou a divagar. O seu tom era estranho, não concretamente devido à doença, mas como se fosse de natureza diferente da normal. Tinha um ressoar sobrenatural. No que respeita ao tema, pareceu-me distinguir que a culpa era do «velhote» - o antigo capitão -, que se encontrava escondido no fundo do mar com malévolas intenções. Era uma história de almas do outro mundo.
Ouvi até ao fim; depois, entrei no camarote e pus a minha mão na testa do imediato. Estava fresca. Estava débil da cabeça apenas devido à sua extrema fraqueza. De repente, pareceu notar a minha presença, e então, com a sua voz normal- muito fraca, evidentemente - perguntou com pesar:
«Então não há forma nenhuma de nos pormos a caminho, comandante?»
«Para que serve, senhor Burns, desencravarmos o ferro do fundo, só para andarmos à deriva?», respondi.