Toda a força do furacão tinha atingido directamente o navio, tornando impossível permanecer em qualquer parte do convés; e os marinheiros, atordoados e cheios de medo, foram abrigar-se no corredor debaixo da ponte do comando. Tinha uma porta à popa que eles fecharam; era muito escuro, muito frio, e sombrio. A cada balanço do navio os homens gemiam em coro no escuro, e era possível ouvir toneladas de água correndo lá em cima por todos os lados como se estivessem a procurar chegar até eles. O mestre tinha estado a tentar metê-los em brios, mas nunca tivera de lidar, disse-o mais tarde, com um bando de idiotas que se lhes comparasse. Eles estavam ali razoavelmente bem aconchegados, não corriam qualquer risco, mas não queriam fazer nada; e com efeito, tudo o que faziam era gemer e queixar-se rabugentemente como garotos amedrontados. Por fim, um deles disse que se houvesse pelo menos alguma luz para poderem ver a ponta do nariz uns aos outros a coisa não seria tão má. Estava a enlouquecê-lo, disse ele, jazer ali no escuro à espera de que o maldito xaveco se afundasse.
- Porque não sais então lá para fora e acabas de uma vez com tudo? - sugeriu-lhe o mestre.
Isto provocou brados de execração. O mestre viu-se coberto de toda a espécie de acusações. Eles pareciam levar a mal que uma lâmpada não surgisse imediatamente, criada a partir do nada. Fosse como fosse, não queriam afogar-se sem ter uma luz que os alumiasse! E embora o despropósito de tamanha gritaria fosse evidente - visto que ninguém podia esperar chegar ao paiol dos candeeiros, que era à proa - o mestre ficou gravemente perturbado.