Não considerava decente da parte deles estarem a chateá-lo daquela maneira. Foi precisamente o que lhes disse, e as suas palavras foram brindadas com um chorrilho de insultos. Procurou refúgio, por conseguinte, num silêncio irritado. Ao mesmo tempo, os resmungos, os suspiros e os murmúrios dos homens aborreciam-no muito; e logo lhe ocorreu que havia seis candeeiros de globo pendurados na entrecoberta e que não faria grande mal privar os chineses de um deles.
O Nan-Shan tinha transversalmente uma carvoeira que, sendo às vezes usada como espaço para carga, comunicava por uma porta de ferro com a entrecoberta da vante. Estava vazia agora e a sua porta de visita era a primeira na passagem. Portanto o mestre podia chegar lá sem ter de passar pelo tombadilho; mas com grande surpresa sua não conseguiu convencer ninguém a ajudá-lo a tirar a tampa da porta. Dirigiu-se para lá na mesma, mas um dos da tripulação deitado em cima não queria afastar-se.
- Mas caramba, eu só quero ir buscar esse maldito candeeiro que vocês estão a reclamar - protestou quase numa voz queixosa.
Um dos homens disse-lhe que se fosse enforcar. Ele lamentou não ter reconhecido a voz, e que estivesse demasiado escuro para ver, pois a não ser assim, conforme disse, teria dado uma lição àquele filho de uma cadela. Apesar disso, tinha decidido mostrar-lhes que conseguia arranjar uma luz, nem que isso lhe custasse a vida.
No meio da violência dos balanços do navio qualquer movimento era perigoso. Estar deitado parecia ser já um grande esforço. Quase partiu o pescoço ao deixar-se cair na carvoeira. Tombou de costas e começou a ser desamparadamente projectado de um lado para o outro na companhia perigosa de uma pesada barra de ferro - uma alavanca de estivar carvão, provavelmente - esquecida ali por alguém.