SONETO
Almas ditosas, que a mortal cadeia
Rompestes, e que pelo bem que obrastes
De um solo obscuro e baixo remontastes
À sublime região de luzes cheia;
Que, ardendo na ira duma honrosa ideia,
Vossas forças na terra exercitastes;
Que o sangue alheio e o próprio derramastes
No mar vizinho, e na longínqua areia;
Primeiro que o valor faltou a vida
Aos braços fatigados que a vitória
Vos deram ao cair já de vencida!
Queda triste, mas bela, aonde a história Mostra quanto é justa e a vós devida No mundo a fama, e lá nos céus a glória.
— Dessa mesma forma o sei eu — disse o cativo.
— Pois o do Forte — continuou o cavaleiro — se bem me recordo, era o seguinte:
SONETO
Da aridez desta terra desgraçada,
E dos castelos pelo chão lançados,
As santas almas de três mil soldados
Subiram vivas a melhor morada!
Mui grande valentia exercitada
Foi aqui por seus braços esforçados,
Mas afinal já poucos e cansados,
Todos morreram vítimas da espada!
É este o solo, aonde padeceram
Tristes sucessos as hispanas gentes
No atual séc’lo, e nos que já correram.
Mas jamais foram dele aos céus luzentes
Almas tão santas, nem jamais desceram
Ao seio seu uns corpos tão valentes!Não desagradaram os sonetos, e o cativo, alegrando-se muito com as novas de seu camarada, continuou assim a história da sua vida:
— Rendidos que foram a Goleta e o Forte, os turcos mandaram desmantelar a Goleta, porque o Forte ficou em tal estado que não houve que lançar por terra, e para a desmantelar mais depressa e com menos trabalho,