— Jesus! que vejo eu?
E, com o sobressalto, caiu-lhe a vela das mãos, e achando-se às escuras, voltou as costas para se ir embora, mas, com o medo, tropeçou nas saias, e deu uma grande queda. D. Quixote, receoso, começou a dizer:
— Esconjuro-te, fantasma, ou quem quer que sejas, para que me digas quem és e o que de mim requeres. Se és alma penada, diz-mo, que eu farei por ti tudo quanto as minhas forças alcançarem, porque sou católico cristão e amigo de fazer bem a toda a gente, e para isso tomei a profissão da cavalaria andante, que até se estende a fazer bem às almas do purgatório.
A aflita dona, que ouviu os esconjuros, pelo seu temor coligiu o de D. Quixote e, com voz aflita e baixa, lhe respondeu:
— Senhor D. Quixote (se por acaso Vossa Mercê é D. Quixote), não sou fantasma, nem visão, nem alma do purgatório, como Vossa Mercê parece que pensou, mas sim dona Rodríguez, a dona de honor da senhora duquesa, que venho ter com Vossa Mercê, por causa de uma aflição, daquelas que Vossa Mercê costuma remediar.