No quarto do pesadelo estivera a actuar durante todo este tempo uma força estranha. Havia ali um terceiro homem, embora nenhum dos três que se encontravam na crise do drama da sua vida tivesse disposto de tempo ou de pensamento para reparar na sua presença. Ninguém saberia dizer há quanto tempo ali estava, nem o que fora que ouvira. Mantinha-se agachado junto da parede, no canto mais afastado do pequeno grupo, qual sinistro réptil, silencioso e imóvel, exceptuando uma ligeira cãibra nervosa na sua mão direita fechada. Ocultava-se atrás de uma caixa quadrada e de um pano preto disposto astutamente por cima, como para lhe esconder o rosto. Seguira com a maior atenção e ansiedade todas as fases do drama e quase estivera prestes a intervir. Mas nenhuma das outras três personagens esperava essa intervenção. Absortas no jogo mútuo das suas próprias emoções, tinham perdido de vista uma força superior a elas; uma força que podia dominar a cena em qualquer momento.
- És um homem comedido, Jack? - perguntou Mason. O militar assentiu com um movimento de cabeça. Mas nesse momento a mulher gritou:
- Não! Isso não, pelo amor de Deus!
Mason havia retirado a rolha do frasco e, voltando-se para uma mesinha lateral, pegou num baralho de cartas e disse:
- Não devemos descarregar para cima dela a responsabilidade. Olha, Jack, a sorte decidirá!
O militar aproximou-se da mesa e baralhou as cartas fatais. A mulher, apoiando-se numa das mãos, inclinou a cabeça para a frente e observou com olhos fascinados.
Então, e só então, caiu o raio.
O terceiro homem tinha-se erguido, pálido e muito sério.
Os três restantes repararam subitamente na sua presença e voltaram-se para ele com expressão de ansiosa interrogação nos olhares.