O PARASITA (
The parasit)
2 de Março. Cá estamos agora em plena Primavera. A grande nogueira que se ergue em frente da janela do meu laboratório está toda coberta de grandes rebentos viscosos e volumosos, alguns dos quais, já dilacerados, deixam passar pequenas borlas verdes.
Quando nos passeamos pelas veredas, sentimos à nossa volta o trabalho das opulentas e silenciosas forças da natureza.
A terra húmida tem um odor a frutos sumarentos. Ramagens verdes espreitam de todos os lados. Os pequenos ramos mostram-se enrijecidos pela seiva que os incha e o ar húmido e pesado da Inglaterra acha-se penetrado por um vago perfume de resina.
Sobre as sebes, botões; por baixo das sebes, cordeiros.
Activa-se em todo o lado o trabalho de reprodução.
Vejo isto muito bem no exterior; sinto-o no interior. Também nós temos a nossa Primavera quando as pequenas arteríolas se dilatam, a linfa corre prestes a extravasar, as glândulas trabalham mais activamente para moer, para filtrar.
Todos os anos, a natureza repara por completo o mecanismo.
Neste exacto momento, sinto fermentar-me o sangue, e seria capaz de dançar como um mosquito no raio refrescante que o sol poente envia pela minha janela.
E fá-lo-ia, por certo, se não temesse que Charles Sadler subisse a escada a quatro e quatro para ver o que se passava.
Depois, devo recordar-me de que sou o professor Gilroy. Um velho professor pode permitir-se ser natural, mas quando a fortuna deu uma das primeiras cátedras da Universidade a um homem de quarenta e três anos, este deve fazer o melhor possível para manter o emprego.
Que rapagão este Wilson!
Se eu pudesse lançar na fisiologia tanto entusiasmo como ele emprega na psicologia, tornar-me-ia pelo menos um Claude Bernard.