O CASO DE LADY SANNOX (
The case of Lady Sannox)
I
As relações de Douglas Stone com a célebre lady Sannox eram bem conhecidas, tanto nos círculos mundanos, de que ela era um membro brilhante, como nas sociedades científicas que o contavam entre os seus mais ilustres membros.
A curiosidade, suscitada pelo seu comportamento, foi portanto geral quando se soube uma manhã que a dama havia professado para sempre e que o mundo nunca mais a tornaria a ver.
A seguir foi recebida a garantia de que o célebre cirurgião, o homem dos nervos de aço, fora encontrado uma manhã pelo criado, sentado na beira da cama, a sorrir agradavelmente para o universo, os dois pés passados na mesma perna das calças, e o seu grande cérebro reduzido ao valor de uma touca cheia de sopa. Havia aqui o suficiente para fazer passar um arrepio de interesse pelo corpo das pessoas que nunca tinham suposto que os seus nervos cansados fossem susceptíveis de sentir uma tal sensação.
Douglas Stone, na juventude, fora um dos homens mais notáveis de Inglaterra.
Claro que não podia dizer-se que houvesse atingido o apogeu, porque tinha trinta e nove anos na altura deste pequeno incidente da vida do mundo.
Aqueles que o conheciam melhor sabiam que, por muito célebre que fosse como cirurgião, teria triunfado ainda mais rapidamente numa dúzia de ramos da actividade humana; que teria alcançado fama como militar; que o mesmo se passaria com a luta como explorador, como magistrado; que ganharia reputação como engenheiro.
Tinha nascido para ser grande, porque podia projectar aquilo que outro homem não ousaria fazer e podia fazer aquilo que nenhum outro ousaria sonhar.
Em cirurgia, ninguém conseguia acompanhá-lo.
Os seus nervos, o seu bom senso, a sua intuição eram qualidades inatas.