O QUARTO DO PESADELO (
The nightmare room)
A sala de estar da família Mason era uma divisão muitíssimo curiosa. Num dos lados achava-se mobilada com extraordinário luxo. Os sofás fofos, as poltronas baixas e cómodas, as estatuetas voluptuosas e os ricos cortinados que pendiam de galerias amplas e decorativas de metal trabalhado, formavam um quadro muito adequado para a encantadora dona da casa. Mason, homem de negócios, era jovem mas possuía uma grande fortuna e não regateara incómodos nem dinheiro para satisfazer 'todas as necessidades e todos os caprichos da sua belíssima esposa. Era natural que o fizesse, porque também ela tinha renunciado a muitas coisas por amor a ele. A mais célebre bailarina de França, a heroína de uma dúzia de extraordinárias aventuras de amor, tinha renunciado à sua vida de prazeres deslumbrantes para compartilhar a sorte de um jovem norte-americano cujas austeras normas de vida tanto se diferenciavam das suas.
O marido procurava compensar o que ela havia perdido proporcionando-lhe tudo quanto a riqueza era capaz de conseguir. Talvez houvesse quem pensasse que teria dado provas de melhor gosto não proclamando esse facto, não permitindo que aparecesse em letra de forma; mas, exceptuando alguns pequenos pormenores como este, a sua conduta como marido não deixou de ser nem um só momento a de um homem apaixonado. Nem sequer na presença de espectadores se furtava a exibir publicamente o amor absorvente que o dominava.
Mas a sala em questão era extraordinária. Ao princípio parecia uma coisa que não fugia ao vulgar, mas depois de frequentá-la durante algum tempo, descobriam-se nela algumas características sinistras. Era uma divisão silenciosa, de uma mudez absoluta. Nas suas ricas alcatifas e tapetes afogava-se todo o género de passos.