O Regresso de Sherlock Holmes - Cap. 3: A Aventura dos Dançarinos Pág. 59 / 363

A Aventura dos Dançarinos

Holmes estava há algumas horas em silêncio, com as suas costas magras curvadas sobre um recipiente de preparação química onde estava a fabricar um produto particularmente mal cheiroso. Tinha a cabeça caída sobre o peito e, do sítio onde eu estava, parecia um estranho pássaro delgado, com plumagem cinzento-baça e penacho preto.

- Então, Watson - disse subitamente -, não se propõe investir em títulos sul-africanos?

Estremeci, espantado. Por mais habituado que estivesse às curiosas faculdades de Holmes, esta súbita intromissão no meu mais íntimo pensamento era absolutamente inexplicável.

- Como raio é que sabe isso? - perguntei.

Holmes rodou o banco com uma proveta fumegante na mão e um lampejo de divertimento nos seus olhos encovados.

- Confesse que ficou absolutamente espantado, Watson - disse ele.

- Confesso.

- Eu devia obrigá-lo a assinar um papel a declarar isso.

- Porquê'?

- Porque daqui a cinco minutos dirá que é absurdamente simples.

- Estou certo de que não direi nada disso.

- Sabe, meu caro Watson - e Holmes colocou a proveta no suporte, começando a discursar com o ar de um professor que se dirige à sua classe -, na realidade não é difícil elaborar uma série-de inferências, cada uma dependente da anterior e cada uma muito simples em si mesma. Se, depois disto, se eliminar todas as inferências centrais e se apresentar o ponto de partida e a conclusão, consegue-se um surpreendente e possivelmente impudico efeito. De facto não foi difícil, depois de inspeccionar a depressão entre o seu indicador e polegar esquerdos, ter a certeza de que não tenciona investir o seu pequeno capital nas minas de ouro.

- Não vejo qualquer relação.





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