— Deus queira que isto não te vá fazer mal em vez de bem!... Nunca tomas café, nem gostas!...
— Isto não é por gosto, filha, é remédio!
Ele com efeito nunca entrara com o café e ainda menos com a cachaça; mas engoliu de uma assentada o conteúdo da tigela, puxando em seguida o cobertor até às ventas.
A mulher tratou de abafar-lhe bem os pés e foi buscar um xale para lhe cobrir a cabeça.
— Trata de sossegar! Não te mexas!
E dispôs-se a ficar junto da cama, a vigiá-lo, só andando na ponta dos pés, abafando a respiração, correndo a cada instante à porta de casa para pedir que não fizessem tanta bulha lá fora; toda ela desassossegada, numa aflição quase supersticiosa por aquele incômodo de seu homem. Mas Jerônimo não levou muito que a não chamasse para lhe mudar a roupa. O suor inundava-o.
— Ainda bem! exclamou ela, radiante.
E, depois de fechar hermeticamente a porta do quarto e meter um punhado de roupa suja numa fresta que havia numa das paredes, sacou-lhe fora a camisa molhada, enfiando-lhe logo outra pela cabeça; em seguida tirou-lhe as ceroulas e começou, munida de uma toalha, a enxugar-lhe todo o corpo, principiando pelas costas, passando depois ao peito e aos sovacos, descendo logo às nádegas, ao ventre e às pernas, e esfregando sempre com tamanho vigor de pulso, que era antes uma massagem que lhe dava; e tanto assim que o sangue do cavouqueiro se revolucionou.
E a mulher, a rir-se, lisonjeada, ralhava:
— Tem juízo! Acomoda-te! Não vês que estás doente?...
Ele não insistiu. Agasalhou-se de novo e pediu água. Piedade foi buscar o parati.
— Bebe isto, não bebas a água agora.
— Isto é cachaça!
— Foi a Rita que disse para te dar...
Jerônimo não precisou de mais nada para beber de um trago os dois dedos de restilo que havia no copo.
Sóbrio como era, e depois daquele dispêndio de suor, o álcool produziu-lhe logo de pronto o efeito voluptuoso e agradável da embriaguez nos que não são bêbedos: um delicioso desfalecer de todo o