Amor de Perdição - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 102 / 145

Avisada Teresa de que seu pai a esperava, instantaneamente a cor sadia, que alegrava as senhoras religiosas, se demudou na lividez costumada. Quis a tia, vendo-a assim, que ela não saísse do seu quarto, e encarregava-se de espaçar a visita do pai.

– Tem de ser – disse Teresa. – Eu vou, minha tia.

O pai, ao vê-la, estremeceu e enfiou. Esperava mudança, mas não tamanha. Pensou que a não conheceria sem o prevenirem de que ia ver sua filha.

– Como eu te encontro, Teresa! – exclamou ele, comovido. – Porque não me disseste há mais tempo o teu estado? Teresa sorriu, e disse:

– Eu não estou tão mal como as minhas amigas imaginam.

– Terás tu forças para ires comigo para Viseu?

– Não, meu pai; não tenho mesmo forças para lhe dizer em poucas palavras que não torno a Viseu.

– Porque não, se a tua saúde depender disso?!…

– A minha saúde depende do contrário. Aqui viverei e morrerei.

– Não é tanto assim, Teresa – replicou Tadeu com dissimulada brandura. – Se eu entender que estes ares são nocivos à tua saúde, hás-de ir, porque é obrigação minha conduzir e corrigir a tua má sina.

– Está corrigida, meu pai. A morte emenda todos os erros da vida.

– Bem sei; mas eu quero-te viva, e, portanto, recobra forças para o caminho. Logo que tiveres meio dia de jornada, verás como a saúde volta como por milagre.

– Não vou, meu pai.

– Não vais?! – exclamou irritado o velho, lançando às grades as mãos trementes de ira.

– Separam-nos estes ferros a que meu pai se encosta e para sempre nos separam.

– E as leis? Cuidas tu que eu não tenho direitos legítimos para te obrigar a sair do convento? Não sabes que tens apenas dezoito anos?

– Sei que tenho dezoito anos; as leis não sei quais são, nem me incomoda a minha ignorância. Se pode ser que mão violenta venha arrancar-me daqui, convença-se, meu pai, de que essa mão há-de encontrar um cadáver. Depois… o que quiserem de mim. Enquanto, porém, eu puder dizer que não vou, juro-lhe que não vou, meu pai.

– Sei o que é! – bramiu o velho. – Já sabes que o assassino está no Porto?

– Sei, sim, senhor.

– Ainda o dizes sem vergonha, nem horror de ti mesma! Ainda…





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