– Meu pai – interrompeu Teresa – não posso continuar a ouvi--lo, porque me sinto mal. Dê-me licença… e vingue-se como puder. A minha glória neste longo martírio seria uma forca levantada ao lado da do assassino.
Teresa saiu da grade, deu alguns passos na direcção da sua cela, e encostou-se esvaída à parede. Correram a ampará-la sua tia e a criada, mas ela, afastando-as suavemente de si, murmurou:
– Não é preciso… Estou boa… Estes golpes dão vida, minha tia.
E caminhou sozinha a passos vacilantes.
Tadeu batia à porta do mosteiro com irrisório enfurecimento pancadas, umas após outras, com grande medo da porteira e outras madres, espantadas do insólito despropósito.
– Que é isso, primo? – disse a prelada com severidade.
– Quero cá fora Teresa.
– Como fora? Quem há-de lançá-la fora?!
– A senhora, que não pode aqui reter uma filha contra a vontade de seu pai.
– Isso assim é; mas tenha prudência, primo.
– Não há prudência nem meia prudência. Quero minha filha cá fora.
– Pois ela não quer ir?
– Não, senhora.
– Então, espere que por bons modos a convençamos a sair, porque não havemos de trazer-lha a rastos.
– Eu vou buscá-la, sendo preciso – redarguiu em crescente fúria. – Abram-me estas portas, que eu a trarei!
– Estas portas não se abrem assim, meu primo, sem licença superior. A regra do mosteiro não pode ser quebrantada para servir uma paixão desordenada. Tranquilize-se senhor! Vá descansar desse frenesi, e venha noutra hora combinar comigo o que for digno de todos nós.
– Tenho entendido! – exclamou o velho, gesticulando contra o ralo do locutório. – Conspiram todas contra mim! Ora descansem, que eu lhes darei uma boa lição. Fique a senhora abadessa sabendo que eu não quero que a minha filha receba mais cartas do matador, percebeu?
– Eu creio que Teresa nunca recebeu cartas de matadores, nem suponho que as receba de ora em diante.
– Não sei se sabe, nem se não. Eu vigiarei o convento. A criada, que está com ela, ponham-na fora, percebeu?
– Porquê? – redarguiu a prelada com enfado.