Amor de Perdição - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 30 / 145

Generoso até ao perdão, o morgado de Castro Daire, compondo o rosto com gesto grave e melancólico, dirigiu-se a Teresa, e pediu-lhe desculpa da frieza que ele disse ser como as das montanhas, que têm vulcões por dentro e neve por fora. Teresa teve a sinceridade de responder que não tinha reparado na frieza de seu primo, e chamou para junto dela uma menina, para evitar que a montanha se fendesse em vulcões. Pouco depois ergueu-se, e saiu da sala.

Eram dez horas e três quartos. Teresa correra ao fundo do quintal, abrira a porta, e, como não visse alguém, tornou de corrida para a sala. No momento, porém, de subir a escada que ligava o jardim à casa, Baltasar Coutinho, que a espiava desde que ela saiu da sala, chegou a uma das janelas sobre o jardim, bem longe de imaginar que a via. Retirou-se, e entrou com Teresa na sala, ao mesmo tempo, por diversa porta. Decorridos alguns minutos, a menina saiu outra vez, e o primo também. Teresa ouviu, a distância, o estrépito dum cavalo, quando passou ao patamar da escada. Baltasar também o ouviu, e notou que sua prima, receosa de ser vista e conhecida pela alvura do vestido, levava uma capa ou xaile que a envolvia toda. O de Castro Daire fez pé atrás para não ser visto. Teresa, porém, num relance de olhar temeroso, ainda vira um vulto retirar-se. Teve medo, e retrocedeu a largar a capa, e entrou na sala, ofegante de cansaço e pálida de medo.

– Que tens, minha filha?! – disse-lhe o pai – Já duas vezes saíste da sala, e vens tão alvoroçada! Tens algum incómodo, Teresa?

– Tenho uma dor: preciso de ir respirar de vez em quando... Nada é, meu pai.

Tadeu acreditou, e disse a toda a gente que sua filha tinha uma dor; só o não disse a seu sobrinho, porque o não encontrou, e soube que ele tinha saído.

Também Teresa dera pela ausência do primo, e fingiu que o ia procurar, resolução de que o velho gostou muito. Desceu ela ao jardim, correu à porta, onde a esperava Simão, abriu-a, e, com a voz cortada pela ansiedade, apenas disse:

– Vai-te embora: vem amanhã às mesmas horas… vai, vai!





Os capítulos deste livro