Foi processado. Paulo Botelho desenvolveu uma espantosa energia no andamento desta causa crime. Erguia-se todos os dias, sôfrego de escrever uma sentença de forca.
Os depoimentos eram todos contrários ao infeliz. Um só homem protegeu esse preso; sabia-se que era um ancião que lhe levava umas sopas diariamente, e palavras consoladoras de esperança sem esperança.
Eulália, sabendo estes acontecimentos até à véspera do dia em que o escudeiro, devia ser condenado, requereu que queria ser ouvida em juízo. Não lhe admitiram o seu depoimento. A pobre menina, inspirada da eloquência do martírio, entrou um dia no coro, quando a comunidade orava, e invocou o testemunho de Jesus Cristo, exclamando, de modo que a escutasse o povo que estava na igreja:
- Declaro que esse infeliz homem que vai morrer, depois de martirizado por meu pai, e apunhalado por um homem que eu desprezei, declaro diante de Deus e dos homens, que esse infeliz nunca me disse uma palavra só para que eu o amasse. Fui eu que o amei, fui que o fiz desgraçado, mas em recompensa hei-de amá-lo toda a minha vida, e hei-de unir-me a ele na presença de Deus! - Era uma demência!
Foi grande o assombro dos que a ouviram. O eco deste grito chegou aos ouvidos de Paulo Botelho, que estava presente; mas a sua alma fora cerrada pela mão corrupta do ouro. O povo murmurava, e dizia que não devia de ser enforcado o escudeiro.
Pobre povo, naqueles dias, se tentasse tirar das mãos dum juiz o seu instrumento inauferível, o carrasco!