Passaram-se quinze dias.
Eulália de Lucena recuperara o juízo, e entrara no mosteiro. Um ano depois, professara. A sua vida foram três anos de adoração extática. Ouviram-na murmurar palavras celestes, como em diálogo. Dizia-se que um anjo devia de aparecer-lhe naqueles arroubamentos. Chamavam-lhe santa, e adoraram-na morta.
Passados quatro anos, Francisco de Lucena, sempre afastado de sua filha pela mão do remorso, morreu de repente no mesmo local em que fora hasteada a forca.
Simão Botelho, filho de Paulo Botelho, dera um tiro em seu pai. O pai quis sentenciá-lo: deu-lhe sentença de forca, que depois foi comutada em degredo perpétuo. Apenas desembarcou em Cabo Verde, abriu-se-lhe uma sepultura.
Paulo Botelho, desembargador aposentado, dez anos depois, morria à vigésima quinta punhalada, que recebera, por não dar exactas informações dum pecúlio de cinquenta mil cruzados, que guardava em uma quinta nas vizinhanças de Vila Real.
A mulher de Paulo Botelho morria doida no hospital de S. José um ano depois.
Restavam três filhas de Paulo Botelho.
Foram devassas até ao escândalo de serem arrastadas a um recolhimento por expresso mandado régio.
Uma apareceu morta num aqueduto por onde procurava evadir-se.
Outra casou com um homem que a retalhou de martírios.
A terceira enforcou-se no batente de uma porta.
A JUSTIÇA DE DEUS CUMPRIU-SE NA PRESENÇA DOS HOMENS.
A praga do justiçado nas escadas da forca teve o seu complemento no género de morte que a última pessoa daquela família se dera.
Forca por forca.
***
Tendes a curiosidade das averiguações? Procurai em alguns cartórios de Viseu a sentença pronunciada entre 1776 e 1780.
Remate
Não sou contumaz, nem me ufano de relapsia.