A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 159 / 359

- Confesso que não terias grande dificuldade em me convencer - afirmei-lhe -, e só eu sei quanto me magoa não me encontrar em situação de poder demonstrar-te a facilidade com que me reconciliaria contigo e esqueceria todos os teus artifícios, como recompensa de tanta boa disposição da tua parte. Mas, meu querido, que havemos de fazer agora? Arruinados como estamos, que lucramos por nos termos reconciliado se não possuímos nada que nos permita viver?

Apresentámos um ao outro muitas sugestões, mas nenhuma delas viável, pois não tínhamos por onde começar. Suplicou-me, por fim, que não falasse mais no caso, pois se lhe partia o coração, conversámos de outras coisas e, com uma despedida de marido, adormecemos.

Levantou-se antes de mim, de manhã, e eu, ensonada por ter adormecido muito tarde, continuei deitada até perto das 11 horas. Nesse ínterim meu marido partiu com os seus cavalos, três criados e toda a sua roupa e bagagem, deixando-me, em cima da mesa, a breve mas comovedora carta que transcrevo:

Minha querida:

Sou um patife e ofendi-te, mas foi levado a isso por uma criatura vil contrariando os meus princípios e o procedimento normal da minha vida. Perdoa-me, minha querida! Peço-te perdão com a maior sinceridade e considero-me o mais miserável dos homens por te haver enganado. Fui tão feliz ao possuir-te quanto, agora, me sinto desgraçado ao ter de fugir de ti. Perdoa-me, minha querida, mais uma vez te peço que me perdoes! Não tenho coragem para te ver arruinada por mim nem para me saber incapaz de te manter. O nosso casamento é nulo, nunca mais te verei e por esta te desobrigo dele; se puderes casar com vantagem, não deixes de o fazer por minha causa, pois aqui te juro por minha fé e pela palavra de um homem de honra que jamais perturbarei a tua tranquilidade se souber do teu casamento, o que aliás é pouco provável.





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