- Meu querido, como pudeste abandonar-me? - perguntei-lhe por fim, mas ele não respondeu, pois a comoção embargava-lhe a voz.
Quando os nossos transportes acalmaram um pouco, disse-me que se afastara cerca de quinze milhas, mas não tivera forças para ir mais longe sem voltar a ver-me e despedir-se uma vez mais de mim.
Contei-lhe como passara o meu dia e com que ânsias o chamara, para que voltasse, e ele disse-me que me ouvira muito bem na Delamere Forest, que ficava a cerca de doze milhas de distância.
- Não julgues que brinco - afirmou, ao ver-me sorrir. - Se alguma vez ouvi a tua voz na minha vida, foi hoje, a gritar por mim; cheguei a ter a impressão de te ver correr no meu encalço.
- Que dizia eu então? - perguntei-lhe, pois não lhe repetira as palavras que proferira no desespero.
- Gritavas muito alto e chamavas: «Ó Jemmy, Jemmy! Volta, volta para mim!»
Ri-me uma vez mais, mas ele insistiu:
- Não rias, minha querida, e acredita que ouvi a tua voz tão claramente como ouves agora a minha. Se quiseres, comparecerei perante um magistrado e jurarei!
Comecei a ficar intrigada e surpreendida - e até um pouco assustada, para ser franca - e contei-lhe o que fizera durante todo o dia e como na realidade assim o chamara.
Depois de falarmos durante algum tempo a tal respeito disse-lhe o seguinte:
- Não fugirás mais de mim, eu é que correrei o mundo contigo! Redarguiu-me que lhe custaria muito deixar-me, mas, já que era inevitável, esperava que eu tornasse a separação tão fácil para mim quanto lhe fosse possível, pois para ele seria, previa-o, a sua desgraça.