A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 315 / 359

Relatou-me, pormenorizadamente, algumas das suas aventuras, sobre- tudo a que se referia ao roubo das diligências de West Chester, perto de Lichfield, que lhe rendera boa presa. Depois disso roubara cinco criadores de gado que iam comprar animais à feira de Wiltshire. Reunira tanto dinheiro nessas duas ocasiões que, afirmou-me, se soubesse onde me poderia encontrar, teria, com certeza, posto em prática a minha proposta de partirmos para a Virgínia ou de nos instalarmos numa plantação em qualquer outra parte das colónias inglesas na América.

Declarou-me que me escrevera duas ou três cartas, com o endereço que lhe deixara, mas que nunca obtivera resposta (o que era verdade, mas as cartas tinham-me chegado às mãos no tempo do meu último marido e, como nada podia fazer, resolvera não lhes responder, para que ele pensasse que se haviam extraviado).

Decepcionado com a falta de resposta, continuara na estrada, embora, uma vez que possuía tanto dinheiro, deixasse de correr riscos tão grandes como antes. Contou-me em seguida alguns reencontros violentos que tivera com cavalheiros que assaltava e não se mostravam dispostos a separar-se, às boas, do seu dinheiro e mostrou-me várias cicatrizes de ferimentos que recebera nessas andanças, alguns bastante graves, como, por exemplo, um produzido por uma bala de pistola, que lhe partira um braço, e outro por uma estocada, que, embora lhe traspassasse o corpo, não lhe atingira qualquer órgão vital. Um dos seus camaradas acompanhara-o tão fiel e lealmente que o auxiliara a cavalgar quase oitenta milhas para tratar do braço e depois o conduzira a um cirurgião de uma cidade importante, longe do local do recontro, fazendo-se passar por cavalheiros que iam para Carlisle e tinham sido atacados na estrada por salteadores, um dos quais lhe dera um tiro no braço, partindo-lhe o osso.





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