O Crime do Padre Amaro - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 117 / 478

Deu outras razões de prudência higiênica, e acrescentou passando-lhe com bondade os dedos pelo pescoço:

- E o que é perder a conveniência, não se aflija a senhora! Eu darei para a panela como dantes; e como a colheita foi boa porei mais meia moeda para os arrebiques da pequena. Ora venha de lá uma beijoca, Augustinha, sua brejeira! E ouça, como-lhe cá as sopas.

Amaro no entanto embaixo ia emalando a sua roupa. Mas a cada momento parava, dava um ai triste, ficava a olhar em redor o quarto, a cama fofa, a mesa com a sua toalha branca, a larga cadeira forrada de chita onde ele lia o Breviário, ouvindo, por cima, cantarolar Amélia.

- Nunca mais! pensava. Nunca mais!

Adeus as boas manhãs passadas ao pé dela, vendo-a costurar! Adeus as alegres sobremesas, que se prolongavam à luz do candeeiro! Adeus os chás, ao pé da braseira, quando o vento uivava fora e cantavam as frias goteiras! Tudo tinha acabado!

A S. Joaneira e o cônego apareceram então à porta do quarto. O cônego resplandecia; e a S. Joaneira disse, muito magoada:

- Já sei, já sei, seu ingrato!

- É verdade, minha senhora, fez Amaro encolhendo os ombros tristemente. Mas há razões... Eu sinto...

- Olhe, senhor pároco, disse a S. Joaneira, não se ofenda com o que lhe vou dizer, mas eu já lhe queria como filho... e levou o lenço aos olhos.

- Tolices, exclamou o cônego. Pois então ele não pode vir aqui em amizade, passar as noites para o cavaco, tomar o seu café?... O homem não vai para o Brasil, senhora!

- Pois sim, pois sim, dizia a pobre senhora desconsolada, mas sempre era tê-lo de portas adentro!

Enfim, ela bem sabia que a gente na sua casa está muito melhor... Fez-lhe então grandes recomendações sobre a lavadeira, que mandasse buscar o que quisesse, louças, lençóis...

- E veja lá, não lhe esqueça alguma coisa, senhor pároco!





Os capítulos deste livro