O Crime do Padre Amaro - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 180 / 478

João Eduardo mexeu-se, sorriu:

- Eu cá por mim, senhor cônego, não tenho razão senão para estar feliz.

- Pois está claro, disse o cônego. E agora Deus lhes dê boas-noites a todos, que eu vou quinar para vale de lençóis. E o Amaro também.

Amaro foi apertar silenciosamente a mão de Amélia, - e os três padres desceram calados.

Na saleta a vela ainda ardia com um morrão. O cônego entrou a buscar o seu guarda-chuva; e então, chamando os outros, cerrando devagarinho a porta, disse-lhes baixo:

- Eu, colegas, não quis assustar há pouco a pobre senhora, mas essas coisas do chantre, esses falatórios... É o diabo!

- É ter cautelinha, meninos! aconselhou Natário, abafando a voz.

- É sério, é sério, murmurou lugubremente o padre Amaro.

Estavam de pé no meio da saleta. Fora o vento uivava: a luz da vela agitada fazia alternadamente destacar e reentrar na sombra do quadro o osso frontal da caveira: e em cima Amélia cantarolava a Chiquita.

Amaro recordava outras noites felizes em que ele, triunfante e sem cuidados, fazia rir as senhoras, - e Amélia, gorjeando Ai chiquita que si, revirava-lhe olhares rendidos...

- Eu, disse o cônego, os colegas sabem, tenho que comer e beber, não me importa... Mas é necessário manter a honra da classe!

- E não carece dúvida, acrescentou Natário, que se há outro artigo e mais falatórios, estala com certeza o raio...

- Olha o padre Brito, murmurou Amaro, esfogueteado para a serra!

Em cima decerto houve alguma graça, porque sentiram as risadas do escrevente.

Amaro rosnou com rancor:

- Grande galhofa lá em cima!...

Desceram. Ao abrir a porta uma rajada de vento bateu a face de Natário duma chuva miudinha.

- Olha que noite! exclamou furioso.





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