O Crime do Padre Amaro - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 202 / 478

Subitamente o som agonizante cessou: ergueram-se: a velha estava imóvel, com os bugalhos dos olhos saídos e baços. Expirara.

O padre Amaro trouxe logo as senhoras para a sala; - e aí a S. Joaneira, curada, pelo choque, da sua enxaqueca, desabafou, em acessos de choro, recordando o tempo em que a pobre mana era nova, e que bonita era! e que bom casamento estivera para fazer com o morgado da Vigareira!...

- E o gênio mais dado, senhor pároco! Uma santa! E quando a Amélia nasceu, e que eu estive tão mal, que não se tirou de ao pé de mim, noite e dia!... E alegre, não havia outra... Ai Deus da minha alma, Deus da minha alma!

Amélia, encostada à vidraça na sombra da janela, olhava entorpecida a noite negra.

Bateram então à campainha. Amaro desceu, com uma vela. Era João Eduardo que, ao ver o pároco àquela hora na casa, - ficou petrificado, junto da porta aberta; enfim balbuciou:

- Eu vinha saber se havia novidade...

- A pobre senhora expirou agora mesmo...

- Ah!

Os dois homens olharam-se um instante fixamente.

- Se eu sou preciso para alguma coisa... - disse João Eduardo.

- Não, obrigado. As senhoras vão-se deitar.

João Eduardo fez-se pálido da cólera que lhe davam aqueles modos de dono da casa. Esteve ainda um momento, hesitando - mas vendo o pároco abrigar a luz, com a mão, contra o vento da rua:

- Bem, boa noite, disse.

- Boa noite.

O padre Amaro subiu: e depois de deixar as duas senhoras no quarto da S. Joaneira (porque, cheias de terror, queriam dormir juntas), voltou ao quarto da morta, despertou a vela sobre a mesa, acomodou-se numa cadeira, e começou a ler o Breviário.





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