O Crime do Padre Amaro - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 205 / 478

Ai, que maroto! Ai, que alma perdida!

- E sabe que é o íntimo do Agostinho, que são bebedeiras na redação até de madrugada, que vai para o bilhar do Terreiro achincalhar a religião...

- Ai, por quem é, senhor pároco, nem me diga, nem mo diga! Que ontem, quando o Sr. padre Natário esteve ai, até tive escrúpulos de ouvir tanto pecado... Que lhe devo esse favor, ao Sr. padre Natário, logo que soube veio-me contar... É de muito delicado... E olhe, senhor pároco, a mim sempre me quis parecer isso mesmo do homem. Eu nunca o disse, nunca o disse! Que lá isso, esta boquinha nunca se pôs em vidas alheias... Mas tinha cá dentro um palpite. Ele ia à missa, cumpria o jejum; mas eu cá tinha a desconfiança que aquilo era para enganar a S. Joaneira e a pequena. Agora se vê! Ele foi criatura que nunca me caiu em graça! Nunca, senhor pároco! - E de repente, com os olhinhos luzidios duma alegria perversa: - E agora, já se sabe, o casamento desmancha-se?

O padre Amaro recostou-se na cadeira, e muito pausadamente:

- Ora, minha senhora, seria notório que uma rapariga de bons princípios fosse casar com um pedreiro-livre, que não se confessa há seis anos!

- Credo, senhor pároco! antes vê-la morta! É necessário dizer tudo à rapariga.

O padre Amaro interrompeu, chegando rapidamente a cadeira para ao pé dela:

- Pois foi justamente para isso mesmo que eu a vim procurar, minha senhora. Eu ontem já falei com a pequena... Mas compreende, no meio daquele desgosto, com a pobre senhora a expirar ao lado, não pude insistir muito. Enfim disse-lhe o que havia, aconselhei-a por bons modos, expus-lhe que ia perder a sua alma, ter uma vida desgraçada, etc. Fiz o que pude, minha senhora, como amigo e como pároco.





Os capítulos deste livro