O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 241 / 478

Gustavo atirou-se para o fundo do banco, de perna estirada, e interpelando-o de alto:

- O tio Osório é que vai dizer. Diga lá o amigo. Vossemecê era homem de mudar as suas opiniões políticas para fazer a vontade à sua patroa?

O tio Osório acariciou o cachaço e disse com um tom finório:

- Eu lhe respondo, Sr. Gustavo. Mulheres são mais espertas que nós... E em política, como em negócio, quem for com o que elas dizem vai pelo seguro... Eu sempre consulto a minha, e se quer que lhe diga, já vai em vinte anos e não me tenho achado mal.

Gustavo pulou no banco:

- Você é um vendido! gritou.

O tio Osório, acostumado àquela expressão querida do tipógrafo, não se escandalizou: gracejou até com o seu amor às boas réplicas:

- Vendido não direi, mas vendedor pro que quiser... Pois é o que lhe digo, Sr. Gustavo. O senhor casará, e depois mas contará.

- O que hei-de contar, é, quando houver uma revolução, entrar-lhe por aqui de espingarda ao ombro, e metê-lo em conselho de guerra, seu capitalista!

- Pois enquanto isso não chega, é beber-lhe e beber-lhe rijo, disse o tio Osório retirando-se com pachorra.

- Hipopótamo - resmungou o tipógrafo.

E, como adorava discussões, recomeçou logo - sustentando que o homem, embeiçado por uma saia, não tem firmeza nas suas convicções políticas...

João Eduardo sorria tristemente, numa negação muda, pensando consigo que, apesar da sua paixão por Amélia, não se tinha confessado nos dois últimos anos!

- Tem provas! berrava Gustavo.

Citou um livre-pensador das suas relações que, para manter a paz doméstica, se sujeitava a jejuar às sextas-feiras, e palmilhar aos domingos o caminho da capela de ripanço debaixo do braço...





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