O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 262 / 478

Quanto mais que, segundo o pároco me provou, toda a influência que ele tem exercido. na Rua da Misericórdia ou onde diabo é, tem tido por fim livrar a rapariga de casar com aquele amigo, que, como se vê, é um bêbedo e uma fera!

O Carlos roía-se. Todas aquelas explicações eram dadas ao Domingos! A ele, nada! Ali ficava, esquecido no vão da janela!

Mas não! Sua excelência, de dentro do seu gabinete, chamou-o misteriosamente com o dedo.

Enfim! Precipitou-se, radiante, subitamente reconciliado com a autoridade.

- Eu estava para passar pela botica - disse-lhe o administrador baixo e sem transição, dando-lhe um papel dobrado - para que me mandasse isto a casa, hoje. É um receita do doutor Gouveia... Mas já que o amigo aqui está...

- Eu tinha vindo para me pôr à disposição da vindita...

- Isso está acabado! interrompeu vivamente sua excelência. Não se esqueça, mande-me isso antes das seis. É para tomar ainda esta noite. Adeus. Não se esqueça!

- Não faltarei, disse secamente o Carlos.

Ao entrar na botica, a sua cólera flamejava. Ou ele não se chamava Carlos, ou havia de mandar uma correspondência tremenda ao Popular!... Mas a Amparo, que lhe espreitara a volta da varanda, correu, atirando-lhe as perguntas:

- Então? Que se passou? O rapaz foi para a rua? Que disse ele? Como foi?

O Carlos fixava-a, com as pupilas chamejantes.

- Não foi culpa minha, mas triunfou o materialismo1 Eles o pagarão!

- Mas tu que disseste?

Então, vendo os olhos da Amparo e os do praticante abertos para devorar a citação do seu depoimento - o Carlos, tendo de ressalvar a dignidade de esposo e a superioridade de patrão, disse laconicamente:

- Dei a minha opinião, com firmeza!

- E ele que disse, o administrador?





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