O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 263 / 478

Foi então que o Carlos, recordando-se, leu a receita que amarrotara na mão. A indignação emudeceu-o - vendo que era aquele todo o resultado da sua grande entrevista com a autoridade!

- Que é? perguntou sofregamente a Amparo.

O que era? e no seu furor, desdenhando o segredo profissional e o bom renome da autoridade, o Carlos exclamou:

- É um frasco de xarope de Gibert para o senhor administrador! Aí tem a receita, Sr. Augusto.

Amparo, que, com alguma prática de farmácia, conhecia os benefícios do mercúrio, fez-se tão escarlate como as fitas flamejantes que lhe enfeitavam a cuia.

* * *

Toda essa tarde se falou com excitação pela cidade da "tentativa de assassinato de que estivera para ser vitima o senhor pároco". Algumas pessoas censuravam o administrador por não ter procedido: os cavalheiros da oposição sobretudo, que viram na debilidade daquele funcionário uma prova incontestável de que o governo ia, com os seus desperdícios e as suas corrupções, levando o país a um abismo!

Mas o padre Amaro, esse, era admirado como um santo. Que piedade! que mansidão! O senhor chantre mandou-o chamar à noitinha, recebeu-o paternalmente com um "viva o meu cordeiro pascal!". E depois de escutar a história do insulto, a generosa intervenção...

- Filho, exclamou, isso é aliar a mocidade de Telêmaco à prudência de Mentor! Padre Amaro, você era digno de ser sacerdote de Minerva na cidade de Salento!

Quando Amaro entrou à noite em casa da S. Joaneira - foi como a aparição dum santo escapo às feras do Circo ou à plebe de Diocleciano! Amélia, sem disfarçar a sua exaltação, apertou-lhe ambas as mãos, muito tempo, toda trêmula, com os olhos húmidos. Deram-lhe, como nos grandes dias, a poltrona verde do cônego.





Os capítulos deste livro