O Crime do Padre Amaro - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 316 / 478

E se a ouvia falar de algum oficial do destacamento, de algum cavalheiro da cidade, eram ciúmes desabridos...

- Gostas dele? Hem! É pelos trapos, pelo bigode?...

- Gosto dele! Oh, filho, eu nunca vi o homem!

Mas escusava de falar da criatura, então! Era ter curiosidade, pôr o pensamento noutro! Dessas faltas de vigilância sobre a alma e a vontade é que se aproveitava o demônio!...

Viera assim a ter um ódio a todo o mundo secular - que a poderia atrair, arrastar para fora da sombra da sua batina. Impedia-lhe, com pretextos complicados, toda a comunicação com a cidade. Convenceu mesmo a mãe que a não deixasse ir só à Arcada e às lojas. E não cessava de lhe representar os homens como monstros de impiedade, cobertos de pecados como duma crosta, estúpidos e falsos, votados ao Inferno! Contava-lhe horrores de quase todos os rapazes de Leiria. Ela perguntava-lhe aterrada, mas curiosa:

- Como sabes tu?

- Não te posso dizer, respondia com uma reticência, indicando que lhe fechava os lábios o segredo da confissão.

E ao mesmo tempo martelava-lhe os ouvidos com a glorificação do sacerdócio. Desenrolava-lhe com pompa a erudição dos seus antigos compêndios, fazendo-lhe o elogio das funções da superioridade do padre. No Egito, grande nação da antiguidade, o homem só podia ser rei se era sacerdote! Na Pérsia, na Etiópia, um simples padre tinha o privilégio de destronar os reis, dispor das coroas! Onde havia uma autoridade igual à sua? Nem mesmo na corte do Céu. O padre era superior aos anjos e aos serafins - porque a eles não fora dado como ao padre o poder maravilhoso de perdoar os pecados! Mesmo a Virgem Maria, tinha ela um poder maior que ele, padre Amaro?





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